Marcelo Souza dos Santos
25/06/1982
-10/06/2023
Na juventude, Marcelo Souza dos Santos, o Goiaba, usava o carro do pai, um Santana cinza. Por causa da semelhança, e também por ser um carro que servia para quase tudo, foi apelidado de DeLorean, como o veículo do clássico “De Volta para o Futuro”.
Marcelo dava carona para todos os amigos naquele Santana. Às vezes, rolava até uma vaquinha para encher o tanque. Todos os trajetos de ida e volta de pessoas e de materiais do Movimento Estudantil da Universidade de Caxias do Sul (UCS) eram feitos naquele carro. E Marcelo nunca se importava com isso.
“Se você usar a sua mente, você pode fazer qualquer coisa”, é uma das frases de De Volta para o Futuro, que combina, de muitas formas, com a trajetória de Marcelo — breve, porém, “meteórica”, como definem os amigos.
O primeiro da família a cursar Ensino Superior, Marcelo sempre soube valorizar o conhecimento. Compreendeu muito bem como, através do estudo, é possível fazer as mudanças que se quer ver no mundo.
Ele começou a trabalhar cedo: com 13 anos já estava fechando agnolini na casa de um vizinho. Depois, ainda muito jovem, trabalhou no Paiol, onde ganhou o apelido de Batatinha.
Veio de uma família humilde. O pai era taxista e a mãe trabalhava em casa, terceirizada de uma malharia. Em uma postagem recente de Facebook, ele lembrou da mãe, já falecida, com respeito pelo seu esforço para ajudar a sustentar os três filhos: “Lembro que era uma alegria chegar o dia do pagamento: nós íamos com ela receber na malharia Stumpf e depois íamos comer um xis do Garfield. Aquilo era a redenção para nós, esperávamos ansiosamente de 30 em 30 dias para comer aquele lanche, o melhor lanche da minha vida, porque era com ela.”
Marcelo desenvolveu a consciência social jovem. No Ensino Médio, já fazia parte do Movimento Estudantil, e sua vida sempre esteve muito ligada à militância e ao Partido dos Trabalhadores. “Ele respirava política,” dizem seus conhecidos. Foi na escola que ele ganhou o apelido que todos conheciam, Goiaba. Na faculdade, onde cursou Direito, participou dos Diretórios Acadêmicos e foi presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) em 2008/2009, um dos tempos mais áureos da UCS, quando a universidade tinha dezenas de milhares de alunos. Foi candidato a vereador por duas vezes em Caxias e seu último cargo político foi como vice-presidente municipal do PT.
Atuava como advogado criminalista e dedicava-se intensamente a tudo o que acreditava. Isso incluía seus casos, quando chegava a ficar amigo de seus clientes, tamanho o seu envolvimento. Engajado nas lutas sociais e na busca por ideais de justiça, Marcelo encontrou no Direito uma ferramenta para garantir melhores condições de vida a muitas pessoas.
Como era enfático nas suas posições, “genioso”, diriam alguns, muitas vezes, comprava brigas por causa de seus discursos e opiniões. “Viver é tomar partido,” disse o filósofo Antonio Gramsci. E Marcelo tomava partido, sem medo, de todas as causas que para ele eram importantes.
Fã de MPB, especialmente de Chico Buarque, presenteou-se com um show do cantor no final do ano passado. E desde a morte da mãe, falava mais sobre como era importante dar valor às pequenas coisas da vida: como ir de moto até o Ninho das Águias, participar de um almoço em família, fazer um passeio com a afilhada ou ir para a sua praia preferida, Pinheira, SC, com os amigos. Entendia que eram os momentos, e não as coisas materiais, que mais importavam.
Intenso, teve muitos amores, mas falava para quem quisesse ouvir que o amor da sua vida era uma ex-namorada; e ele, na época, não teve a maturidade suficiente para entender a importância do relacionamento.
Marcelo era expansivo: sua risada era alta e contagiante. Para ele, não tinha tempo ruim, nem mesmo nos períodos em que sua saúde estava mais debilitada.
Na sua última postagem, já internado, disse que “estava lutando, para continuar lutando”. E completou: “Mas seguimos em frente, porque se fosse fácil, não seria para mim.”
Texto: Valquíria Vita, Legado Histórias de Vida
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Comentários
Larissa
Ainda lembro do primeiro escurtinio do dce da ucs, ficamos até às 3 da manhã, o goiaba e o mazotti acompanhando, foi uma competição bonita, ele lutou, gritou e brigou, depois comemoramos juntos, desde lá, 2003 ou 2004, nunca mais nos separamos.
15/06/2023