Luiz Carlos de Lucena
18/02/1942
-26/10/2018
Luiz Carlos de Lucena passou a infância em meio à natureza de Cazuza Ferreira. Uma de suas atividades favoritas era algo que as crianças de hoje desconhecem: fazer incursões na mata. Nessas aventuras, Lucena recolhia vagalumes e os colocava em um pote de vidro. Levava-os para casa e lá ficava, incansavelmente, observando seu acende e apaga. A mãe, ao descobrir os vagalumes trancafiados, obrigou o filho a devolvê-los ao mato, originando, com isso, o título do último livro que ele escreveria, muitos anos mais tarde, “Apaguei a luz do vagalume”.
Lucena escreveu cinco livros. Mas teria histórias e causos para escrever muito mais.
Nascido em 1942, frequentou a escola até o Ensino Fundamental, mas era um aluno rebelde. Ia para as aulas porque era obrigado pelos pais.
No final dos anos 50, ainda piá, Lucena estava declamando uma poesia em um CTG, quando a sua boa oratória chamou a atenção de um locutor, que o convidou para trabalhar na Rádio Clube de Canela. Foi seu primeiro trabalho na área.
Depois, a família se mudou para Caxias do Sul, onde ele ingressou na Rádio Caxias. Perto dos colegas, Lucena era apenas um guri. A carreira estava só começando.
Após a rádio, ele trabalhou na TV Caxias, Jornal Pioneiro e UCS TV. Entre os momentos mais marcantes da sua trajetória nos veículos de comunicação, está a participação da primeira transmissão de TV a cores no Brasil, quando todos os olhos se voltaram a Caxias do Sul, durante a Festa da Uva de 1972. O acontecimento era um orgulho para ele.
A carreira de Lucena teve dois grandes momentos. Depois de 30 anos como comunicador, atuou por mais de 30 como assessor de relações institucionais na Viação Santa Tereza, Visate. Em ambos, estava envolvido com suas duas paixões, comunicação e comunidade. Essas duas palavras tinham tudo a ver com ele.
Ele começou a carreira na Visate antes mesmo de a empresa ser implantada em Caxias. Participou até da escolha do terreno. Então, tinha mais tempo de atuação na Visate do que a própria empresa (a cada aniversário da Visate, ele comemorava um ano a mais que ela). Não era à toa que era conhecido como o “Lucena da Visate”, como se “da Visate” fosse quase que um sobrenome.
Lucena era daquelas pessoas que conhecia todo mundo. E todo mundo conhecia ele. Nunca saía na rua sem encontrar alguém e parar por uns minutos para bater papo. Expansivo e simpático, se interessava genuinamente pelas pessoas. Dava a elas muita atenção, nunca dizia não, estava sempre disponível. Fazia isso com todos, desde o representante do bairro até o maior empresário da cidade. Tinha muitos amigos, de diferentes círculos. Adorava festas, bailes e eventos. Seu estilo musical era a rancheira e era um fã de César Passarinho.
Lucena foi casado por 35 anos com Mari Helena (casaram-se no CTG Rincão da Lealdade). Tiveram quatro filhos, Fabiana, Renata, Claudia e Tiago. A eles, ensinou a importância da honestidade e da humildade, características que seguia em sua própria trajetória.
Seu segundo casamento, com Eliana, durou 18 anos. Ele começou a escrever, como hobby, para passar o tempo. Como bom tradicionalista, escrevia causos. Eliana sugeriu: “Por que tu não põe isso num livro?” Lucena gostou da ideia. E foram tantos causos que, um livro se transformou em cinco. E ele costumava brincar: “Com Mari Helena tive quatro filhos. Com Eliana, foram cinco livros.”
Pelos esforços de tantos anos de trabalho e dedicação, Lucena recebeu o título de Cidadão Caxiense, em 2007; uma cadeira na Academia Caxiense de Letras, em 2008; o Troféu ARI Serra Gaúcha, em 2012; além de outros reconhecimentos, cujas medalhas e placas guardava em casa com orgulho.
Foi reconhecido como figura importante da comunidade, mas era especialmente importante para a sua família. Fã de um churrasco (óbvio) e de uma boa tripada, Lucena foi o criador do “Rodeio dos Lucena”, encontro de família que tinha uma grande feijoada. Ele passava dias planejando (e picando os ingredientes) para aquela panelada.
Outra paixão eram as viagens. E ele era um profissional que vestia a camisa da empresa mesmo, pois certa vez, mandou foto para os filhos no mercado público da Espanha vestindo a jaqueta da Visate. Já na Torre Eiffel, tirou foto com lenço vermelho de gaúcho e boina. Era uma pessoa com personalidade.
Sempre foi muito humilde, pensando mais nos outros e menos nele. Dizia que não queria homenagens após a sua morte. Tanto é que, quando foi proposta uma ideia de dar o nome dele a uma rua, a família achou que isso não teria a ver com o pai, que não gostava dos holofotes. Mas eles aceitaram a outra sugestão: em 2023, cinco anos após a sua partida, Lucena agora dá nome à Casa de Leitura, Memória e Educação Legislativa da Câmara Municipal de Caxias do Sul. Uma homenagem na chamada Casa do Povo e dentro de um espaço de valorização da palavra escrita, algo que ele tanto estimava. Além disso, há um outro significado especial para a família: na Câmara, há também uma sala de imprensa, que homenageia um grande amigo dele e colega da área da Comunicação, Paulo Cancian. Eles certamente teriam gostado dessa proximidade.
Lucena acreditava que “viver em paz com todos” era sempre a melhor alternativa. E assim o fez. Nada o tirava do sério. Talvez seja por isso que, sempre que olhava para trás, não sentia arrependimento algum. “Eu faria tudo de novo,” ele dizia.
Lucena partiu em outubro de 2018 e, para homenagear sua jornada, a despedida teve o que ele mais gostava: muita gente reunida. Ficou em todos a lembrança de que a vida deve mesmo ser vivida como ele ensinava, numa boa e na paz.
Crédito da foto: Porthus Junior
Texto: Valquíria Vita, Legado Histórias de Vida
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