Guilherme Schneider

Guilherme Schneider

03/07/1961

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03/12/1999

Há algo na estrada que encanta os motoristas. Talvez seja a liberdade, a sensação de que você está no comando do seu próprio caminho. Ou quem sabe seja a tranquilidade. No silêncio das estradas, especialmente à noite, a companhia do motorista é apenas o seu pensamento. 

Não se sabe o quê exatamente encantava Guilherme Antônio Schneider na profissão de caminhoneiro. Mas sabe-se que ele amava dirigir. E amava a estrada. 

Até chegar ao seu trabalho dos sonhos, porém, foi um longo caminho. Guilherme nasceu em Nova Prata, em uma família de seis irmãos. Como era o mais novo, ganhou o apelido de Guilherminho. 

Guilherminho nunca fugiu do trabalho. Pelo contrário, sempre se ofereceu para seu útil. Ainda pequeno, trabalhou na pedreira da família, que ficava no interior, carregando caminhões com pedras que seriam transportadas para a cidade. Ele também trabalhava na lavoura, ajudando os pais nas plantações e tirando leite de vaca. 

Na adolescência, já dirigia o caminhão que transportava as pedras, enquanto sonhava em ter o seu próprio veículo. Trabalhou como motorista para algumas empresas e, aos 35 anos, conseguiu comprar seu próprio caminhão, um Mercedes-Benz 1516, bege e verde. Com isso, ele começou a Trans Schneider e fez inúmeras viagens pelo Brasil, especialmente para São Paulo.

Algumas pessoas têm talento nato para se localizar, e Guilherme era um delas. Em uma época sem celular, era como se ele tivesse seu GPS próprio. Ele nunca teve dificuldade de encontrar endereços, em qualquer cidade que fosse, qualidade que veio muito a calhar para a profissão que havia escolhido. Guilherme embarcava em seu caminhão com seus mapas impressos e seguia as rotas traçadas, sem problema algum. 

Como muitos caminhoneiros, Guilherme não tinha feriados nem finais de semana, mas não se importava com isso. “Ninguém pode dizer que eu não trabalho,” ele costumava dizer. 

Mais do que isso, ele era uma pessoa disponível para quem precisasse. Essa talvez tenha sido sua marca registrada. Nas suas viagens, enchia o caminhão com cachos de banana e distribuía para toda a família ao chegar. Colhia laranja e maçã, na época das plantações da família, e doava a quem precisava na cidade. Se alguém precisava de um serviço de elétrica, ele fazia. Uma carona para Porto Alegre para uma consulta médica, ele levava. Um caminhoneiro com o veículo quebrado na estrada, ele ajudava. 

Certa vez, uma sobrinha se machucou brincando em Nova Prata, e a mãe quis levar a filha de volta para casa, em Curitiba, para ser atendida no hospital de lá. Guilherme nem pensou duas vezes: colocou a menina no banco de trás da Caravan do pai e dirigiu a sobrinha e o resto da família até o Paraná. Para ele, fazer algo pelos outros não era uma dificuldade, sequer um esforço. Era algo que fluía naturalmente. Ele simplesmente fazia, sem encontrar empecilhos para as situações, por mais tensas que fossem. 

A vida de caminhoneiro era sofrida, exigia muito esforço físico. Mas ele tinha paixão por aquela profissão. Quando não estava dirigindo, gostava de jogar futebol, outra paixão que teve desde criança. Torcedor do Internacional, era goleiro, e até hoje, é lembrado em Nova Prata como um dos melhores goleiros da cidade. 

Quando foi planejado o primeiro ginásio de esportes de NP, ele convocou a turma de amigos para ajudar na construção. Guilherme era assim: quando colocava algo na cabeça, estava decidido. Teimoso, costumava não escutar opiniões contrárias e seguia firme nas suas decisões, mesmo que elas dessem errado. 

Além de futebol, também gostava de música. Especialmente de Kiss, sua banda favorita. Na juventude, junto com os amigos, na época das discotecas nas garagens de casa, Guilherme montou uma banda cover. Sua função era fazer o jogo de luzes que iluminavam a apresentação conforme as batidas da música.

Guilherme conheceu Sonia em uma festa de capela e para conquistá-la, mandou bilhetes e flores (roubadas das roseiras). Com ela, teve duas filhas, Natalia e Camila. Como pai, tinha toda a paciência do mundo, inclusive para brincar. Deixava as meninas pular e rolar em cima dele, enquanto se deitava no chão.

Uma vez, a família toda fez uma viagem no caminhão para o Litoral de São Paulo. Choveu o tempo todo e a praia foi pouco aproveitada. Mas a memória da aventura em família nunca foi esquecida. Assim como a vida de Guilherme.

Hoje, as filhas, crescidas, seguiram suas próprias carreiras: uma bióloga e uma dona de negócio. Carreiras bem distintas, mas regidas pela mesma obstinação do pai. Natalia e Camila colocam esforço em tudo o que fazem. Que orgulho ele teria delas e de tudo o que aprenderam. A passagem de Guilherme pode ter sido breve. Mas como foi longa a sua lista de ensinamentos.

 

Texto: Valquíria Vita, Legado Histórias de Vida 

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